É uma das paisagens mais secas da Austrália e é o maior terreno de calcário do mundo. O nome da planície, Nullarbor, deriva das palavras latinas "nullus" (nada) e "arbor" (árvore). Quase sem árvores, a planície, que abrange o sul ocidental da Austrália, recebe menos de três centímetros de chuva por ano.
Mas o Nullarbor já foi diferente. Há três milhões de anos e meio, o Nullarbor foi um bosque exuberante, com vegetação densa, árvores de eucalipto, banksias e outras plantas encontradas, hoje em dia, só na costa leste da Austrália.
No entanto, descobrir este passado não foi tarefa fácil. Investigar a história climática das regiões desérticas da Austrália sempre foi um grande desafio para os cientistas, por faltarem fósseis e por ser complicado datar, com precisão, os existentes.
Porém, sempre houve um ponto assente. A data em que surgiram as áreas áridas da Austrália: há cerca de 14 milhões de anos. Para os cientistas, a aridez destas regiões desenvolveu-se em resposta ao arrefecimento da Antárctica.
O segredo estava nas cavernas
O lugar com mais calcário do mundo tem centenas de cavernas. Estas cavernas contêm coleções abundantes de estalagmites e estalactites, que são formações rochosas formadas no solo de cavidades subterrâneas pela queda lenta das águas.
Para Kale Sniderman, membro do grupo de investigação, sempre foi claro que o Nullarbor tivesse tido um passado mais húmido. O desafio era identificar quando.
Novos métodos, novos resultados
Graças às novas técnicas para datar o pólen fossilizado, os cientistas de Melbourne identificaram uma transformação dramática no clima ocorrida há cerca de cinco milhões de anos.
Foi Jon Woodhead, outro membro da equipa, a desenvolver a técnica e a aperfeiçoar o método para datar as formações rochosas antigas. Até ao momento, era impossível datar formações rochosas com mais de 500 mil anos.
"Até cinco milhões de anos atrás, a região de Nullarbor teve um clima relativamente seco, mas, em seguida e de repente, a vegetação mudou", explica Snirderman.
O facto de se ter tornado numa floresta, em apenas 100 mil anos, sugere que houve uma chuva duas ou quatro vezes maior do que a atual.
Durante a "grande molha", entre cinco e 3,5 milhões de anos atrás, estima-se que a precipitação tenha aumentado para 1.220 milímetros.
Devido ao método desenvolvido por Woodhead, Sniderman conseguiu tirar conclusões sobre o pólen existente em algumas das amostras das formações rochosas.
"A maioria não continha qualquer pólen, o que não é surpreendente, pois muitas formações rochosas desenvolveram-se em cavernas que não tinham aberturas para a superfície", afirmou o professor .
"Mas algumas tinham pólen fossilizado, o que revelou a natureza da vegetação que cresceu nesses tempos", concluiu.
Uma nova perspetiva da história do clima de Nullarbor
Estas provas deram uma nova perspetiva à história do clima de Nullarbor, segundo o professor Sniderman. Para o professor Woodhead, a investigação revelou que o Nullarbor era muito mais do que o seu relevo icónico.
O professor ainda acrescentou que a investigação é um passo importante para os estudos do clima antigo em todo o mundo.
O estudo foi publicado na última edição da revista Proceedings, da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos da América.
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