Aníbal Cavaco Silva falava durante uma conferência sobre "Educação para sociedades partilhadas", na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, promovida pela organização internacional Club de Madrid, da qual faz parte, juntamente com mais cerca de cem antigos Presidentes e primeiros-ministros.
"Em Portugal, falamos há muitos anos de descentralizar competências em matéria de educação, o que, em concreto, significa dar às autarquias, aos municípios mais responsabilidades, não apenas na gestão dos equipamentos, mas na escola como um todo. Julgo que, nesse processo, é absolutamente determinante que a escola seja assumida como centro da vida em comunidade", afirmou.
Segundo o antigo chefe de Estado, "isso implica um envolvimento das autarquias, mas também das famílias, das instituições e das empresas locais".
"A escola não é apenas mais um edifício. Não é apenas um depósito de crianças. É na escola que projetamos o futuro de cada comunidade e, como tal, o futuro do país. A educação é, de facto, a base da verdadeira inclusão social. A comunidade como um todo deve empenhar-se em combater o absentismo, a exclusão, o 'bullying' e o insucesso", acrescentou.
Em seguida, Cavaco Silva elogiou a iniciativa de criação da associação Empresários Pela Inclusão Social (EPIS), criada por proposta sua, quando era Presidente da República, que presta apoio a estudantes em risco de insucesso escolar.
"Esta forma de responsabilidade social das empresas é um bom exemplo de apoio ao rendimento escolar das crianças, uma forma concreta de combater a exclusão social passível de ser replicado em qualquer país", considerou.
O também antigo primeiro-ministro manifestou-se convicto de que "as respostas para a promoção da educação inclusiva, ainda que pensadas globalmente, têm de ser aplicadas localmente", e passam pela "multiplicação de pequenos bons exemplos".
No plano global, Cavaco Silva apontou a educação como fator de construção de sociedades inclusivas e justas e de prevenção de crises, sustentando que "os baixos níveis de educação são também uma fonte de ameaças globais, como é o caso fluxos de imigração ilegais, os fundamentalismos e extremismos radicais, a violência, o terrorismo internacional, o tráfico de droga, a degradação ambiental".
"As ameaças globais são argumentos particularmente relevantes para que os governos e as organizações internacionais cooperem para promover mais e melhor educação, para promover a difusão do conhecimento a nível global, o que deve ser feito em paralelo com a erradicação da pobreza extrema. É um contributo para impedir as crises antes delas ocorrerem", defendeu.
No seu entender, "é por isso importante que os agentes políticos compreendam que a educação é um instrumento relevante para a construção de sociedades inclusivas e justas, abertas ao diálogo, e respeitadoras das diferenças e da diversidade", mas "o contributo da sociedade civil e da comunidade empresarial é particularmente importante" também.
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