Em entrevista ao Porto Canal, que ser+a transmitida hoje, a líder bloquista, Catarina Martins, foi questionada sobre o caso de Rui Pinto, criador do Football Leaks, tendo considerando que "há três questões diferentes que é bom ponderar".
"Em primeiro lugar, as responsabilidades que Rui Pinto tenha tido devem ter o seu julgamento próprio, como é óbvio. Nós já tivemos denunciantes no passado que fizeram grandes fugas de informação de uma forma altruísta pelo interesse público e há outros casos em que há crime por trás e portanto não há esse altruísmo. O Ministério Público português tem de fazer esse trabalho", defendeu.
Outro problema, na ótica de Catarina Martins "é saber o que é que se faz com a informação vinda deste processo", defendendo que as fugas, "não sendo provas legítimas e não sendo fruto de uma investigação judicial", a justiça "tem de investigar e tem de perceber o que lá está".
"É muito difícil compreender que se vá atrás do denunciante com tanta força" e não se faça a investigação, criticou Catarina Martins.
Para a coordenadora do BE "essa é a parte inaceitável" ou seja "a justiça tem de investigar as informações que tem, todas elas".
"Há depois um terceiro aspeto que inquina normalmente este debate chamado 'futebol leaks' e aqui inquina neste debate por duas razões: primeiro porque há paixões futebolísticas e as pessoas acham que têm de estar de acordo ou contra de acordo com o seu clube de futebol", apontou.
Catarina Martins assume que não tem clube de futebol, mas dá o exemplo da eurodeputada bloquista Marisa Matias "que é do Benfica e disse sempre que tem de ser investigado o que diz o Rui Pinto".
"Há aqui um problema que é que existe quase uma exceção de Estado de Direito no futebol português em todos os clubes que não pode mais existir. Não só sobre crimes que tem a ver com crime económico, com questões de violência", condenou.
Para a dirigente bloquista "isso é um problema grave que Portugal tem".
"Acho que a Justiça tem muita dificuldade em agir no que diz respeito ao futebol e isso é um problema não pode haver exceções ao Estado de direito", disse.
O Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa decidiu, em 17 de janeiro, levar a julgamento Rui Pinto, criador do Football Leaks, por 90 crimes de acesso ilegítimo, acesso indevido, violação de correspondência, sabotagem informática e tentativa de extorsão, deixando cair 57 crimes. (Passa do total de 93 para 90 crimes, e de 54 para 57 crimes).
Em setembro de 2019, o Ministério Público (MP) acusou Rui Pinto de 147 crimes, 75 dos quais de acesso ilegítimo, 70 de violação de correspondência, um de sabotagem informática e um de tentativa de extorsão, por aceder aos sistemas informáticos do Sporting, da Doyen, da sociedade de advogados PLMJ, da Federação Portuguesa de Futebol, da Procuradoria-Geral da República (PGR) e da Plataforma Score e posterior divulgação de dezenas de documentos confidenciais destas entidades.
Na leitura da decisão instrutória, a juíza de instrução criminal (JIC) Cláudia Pina pronunciou (levou a julgamento) Rui Pinto por 68 crimes de acesso indevido, por 14 crimes de violação de correspondência, por seis crimes de acesso ilegítimo e ainda por sabotagem informática à SAD do Sporting e extorsão, na forma tentada, este último, crime pelo qual o advogado Aníbal Pinto também foi pronunciado. (Passa de 17 para 14 crimes de violação de correspondência).
A instrução, fase facultativa que visa decidir se o processo segue e em que moldes para julgamento, foi requerida pela defesa dos dois arguidos no processo: Rui Pinto e o seu advogado, à data dos factos, Aníbal Pinto, acusado de intermediar a tentativa de extorsão, de entre 500.000 euros a um milhão de euros, ao fundo de investimento Doyen.
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