Krajewski entendeu que não era aceitável que perto de uma centena de famílias, italianas e provenientes de outros 17 países, entre as quais muitas dezenas de crianças, estivessem condenadas a não ter água quente e luz, e não vissem perspetivas de poderem pagar a elevada quantia da fatura elétrica em débito.
“Foi um gesto desesperado. Havia mais de 400 pessoas sem eletricidade, com famílias e crianças, sem a possibilidade de fazer funcionar os frigoríficos”, afirmou o cardeal, que já acompanhava há tempos a situação daquelas famílias, enviando do Vaticano ambulâncias, médicos e comida. “Estamos a falar de vidas humanas”, sublinhou, citado pelo jornal italiano Corriere della Sera.
“A coisa absurda é que estamos no centro de Roma. Quase quinhentas pessoas abandonadas. São famílias que não têm para onde ir, pessoas que lutam para sobreviver”, disse o cardeal Krajewski. “O primeiro problema”, disse ele, “não é o dinheiro”.
Quem não gostou nada deste gesto foi o vice-primeiro ministro e ministro do Interior italiano, Matteo Salvini. “Toda a gente é livre de fazer o que quiser, comentou ele, mas espero que depois de ter restabelecido a corrente elétrica vá pagar os 300 mil euros em atraso que alguém não pagou e ajude todas as outras famílias italianas em dificuldade, que não podem pagar suas contas de eletricidade”.
A resposta veio da irmã Adriana, uma missionária leiga que havia recorrido ao cardeal Krajewski para resolver a situação originada pelo corte da luz: “Diante de um problema de saúde e de vida destas pessoas, eu não esperava essa resposta do ministro Salvini. Estava à espera de outra coisa, esperava a sua intervenção, até mesmo pessoal, neste espaço (…) para ver como funciona a ocupação, quem são as pessoas que cá moram, a sua história, a sua vida”, observou ela, citada pelo jornal La Repubblica. “A ocupação – acrescentou – quase que se tornou uma norma porque não há hipóteses de sobrevivência. Se não fosse através da Igreja, onde é que estas pessoas estariam? Como seria se não houvesse cantinas ou ofertas de roupas?”
Este acontecimento registou desenvolvimentos nesta segunda-feira, quando os ocupantes decidiram solidarizar-se com o gesto do cardeal e abrir as portas a todos os cidadãos que queiram auto-denunciar-se como cúmplices dele. Na assembleia convocada para o fim da tarde, estava anunciada a participação de representantes da Comunidade de Sant’Egídio e da presidente do município Sabrina Alfonsi. “Siamo tutti padre Konrad” (somos todos padre Konrad), foi a consigna escolhida.
O esmoleiro do Papa acabava de chegar da ilha de Lesbos, na Grécia, onde foi levar, na semana passada, a solidariedade do Papa Francisco aos imigrantes que vivem nos campos de retenção que a União Europeia criou.
Recorde-se que este bispo polaco, de 55 anos, cedeu há dois anos os seus aposentos a um casal de refugiados sírios, indo viver para um pequeno apartamento onde tem o seu escritório. E é frequente encontrá-lo de noite, numa carrinha, distribuindo roupas e alimentos aos pobres sem teto que dormem nas ruas de Roma.
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