A Câmara de Setúbal assumiu a liderança do processo de requalificação do Convento de Jesus após a assinatura de um protocolo com a Direção Regional de Cultura de Lisboa e Vale do Tejo (DRCLVT), em janeiro de 2012, o que permitiu lançar o concurso público e adjudicar a empreitada da primeira fase das obras de recuperação e valorização, concluídas em 2015.
As primeiras empreitadas de reabilitação e estabilização do edifício permitiram reabrir o Convento de Jesus em 20 de junho de 2015, 23 anos após ter sido encerrado. Mas dois anos depois, em 24 de outubro de 2017, o imóvel fechou outra vez as portas devido ao arranque da segunda fase dos trabalhos, que incluíram a recuperação da zona dos claustros, sala do capítulo, coro alto e espaço envolvente do convento.
Para a presidente da Câmara de Setúbal, Maria das Dores Meira, a importância histórica do monumento justifica o empenho do município e os seis milhões de euros já investidos na requalificação, que, embora não esteja ainda concluída, já permite a reabertura ao público no próximo mês de outubro.
“As infraestruturas mais importantes, as águas, os telhados, foi tudo feito na primeira fase. Nesta segunda fase foi feita a reabilitação da sala do capítulo, da ala norte, partes da igreja e todas as arcadas (claustros)”, disse Maria das Dores Meira, em declarações à agência Lusa durante uma visita ao principal monumento da cidade de Setúbal.
“Na parte frontal do convento, havia um pátio onde a nossa juventude se deliciava com os skates. Foi construído um novo parque de skate para a juventude noutro local da cidade e nós repusemos ali um bonito jardim em frente ao convento, para as pessoas desfrutarem deste monumento e terem ali também momentos de lazer. E na parte de trás foi reabilitada toda a cerca pequena e todo o hornaveque do convento”, acrescentou.
Segundo Maria das Dores Meira, a recuperação do Convento de Jesus tem sido um “processo longo”, que começou em 2002 com os esforços do município junto do Ministério da Cultura, da Direção-Geral do Património e de outras entidades, uma vez que se trata de um Monumento Nacional, da responsabilidade da administração central e não da Câmara Municipal.
A autarca comunista, que está cumprir o terceiro e último mandato como presidente da Câmara de Setúbal, recordou que o entendimento com a administração central só foi possível há cerca de 10 anos e que a “saga da recuperação do Convento de Jesus” começou a ser concretizada em 2013. A autarquia, sublinhou, teve de se substituir à administração central, assumindo a comparticipação nacional (50%) de uma candidatura a fundos comunitários para a requalificação.
“Quando o Estado português teve de concretizar a candidatura em 2013, não havia dinheiro. Há um recuo do Estado português em relação a este edifício. E é a Câmara Municipal de Setúbal, com os impostos dos setubalenses, que vem dizer na altura: então nós vamos pagar essa comparticipação nacional”, disse.
Maria das Dores Meira referiu ainda que, depois de concluídas as primeiras duas fases de reabilitação, está já adjudicada, por 2,2 milhões de euros, uma terceira etapa, para a recuperação do que ainda falta nas alas norte e nascente do convento.
Para uma quarta fase fica a construção de um depósito para o espólio arqueológico, pinturas e arte sacra do Museu de Setúbal, instalado no convento.
O Convento de Jesus foi o palco escolhido para a ratificação, em 1494, do Tratado de Tordesilhas, com que Portugal e Espanha dividiram o mundo. Acolheu as freiras de um ramo da Ordem Franciscana até 1888, e, posteriormente, albergou o antigo Hospital do Espírito Santo até 1959.
Construído no final do século XV, em terrenos cedidos à Coroa por um particular, o convento, classificado como Monumento Nacional em 1910, acolhe desde o início da década de 60 do século XX as instalações do Museu de Setúbal, acervo com diversas coleções artísticas, arqueológicas, históricas e documentais de elevado valor, algumas com dimensão internacional.
A Igreja do Convento de Jesus, projetada pelo arquiteto Boitaca e considerada uma joia da arquitetura portuguesa, ensaia as especificidades da arquitetura manuelina que se lhe seguiria, particularmente no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa.
Comentários