As associações ambientalistas Quercus e Acréscimo denunciaram na quinta-feira uma alegada ilegalidade num projeto de reflorestação em Pedrógão Grande promovido pela Celpa (Associação da Indústria Papeleira), onde terão sido plantados eucaliptos em área destinada a medronheiros.
A APFlor, que é entidade parceira neste projeto-piloto, afirmou hoje que se demarca “de qualquer ilegalidade cometida fora da sua intervenção e sem o seu conhecimento” e que não assume “qualquer responsabilidade pelos eventuais atos cometidos fora da legalidade processual”.
“A participação da APFlor, no âmbito deste projeto, passou por identificar as áreas suscetíveis de enquadramento no programa-piloto, promover e desenvolver ações de divulgação e de angariação de áreas junto dos proprietários de terrenos situados em áreas ardidas de eucalipto e em subprodução”, aclarou a associação, em comunicado enviado à agência Lusa, salientando que sempre se pautou “pelo estrito cumprimento das normas legais”.
Na mesma nota, a associação realça que a ação promovida pela Celpa traduziu-se “num programa simples, profissional e desburocratizado”, que trouxe um “novo ânimo” a todos os proprietários florestais, desmotivados após os grandes incêndios de 2017.
Contactada pela agência Lusa, a engenheira florestal Tânia Ferreira, da APFlor, realçou que “os medronheiros foram plantados”.
“Eu estive no terreno e vi-os a serem plantados. Fui apanhada de surpresa com estas notícias”, frisou, realçando que, face ao investimento que foi feito na plantação de medronheiros, a própria associação estava a pensar como “promover esta fileira” em Pedrógão Grande.
“Isto é tudo muito estranho”, disse Tânia Ferreira, referindo que tem, inclusive, as faturas do pagamento das plantas e que foi “tudo planeado de acordo com a legislação”.
O caso foi avançado pelo semanário Jornal de Leiria, com as duas associações a acusarem a Celpa, onde estão integradas empresas como a Navigator e a Altri, de plantar eucaliptos em 4,6 hectares que estariam destinados a medronheiros, num projeto de rearborização intitulado “ReNascer Pedrógão”.
Na quinta-feira, a Celpa afirmou, em comunicado, que não é “formalmente responsável pela manutenção das áreas em causa”, mas que solicitou ao Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) que “desenvolva os procedimentos que considere necessários” para que a área abrangida seja “novamente espelho da legalidade que se impõe”.
“Determinada em contribuir para uma melhor floresta, a Celpa também vai, a partir de dia 8 de agosto, iniciar um processo interno de identificação minuciosa de toda a área já intervencionada e eventualmente caracterizar as situações que forem encontradas e que não cumpram os requisitos legais que fizemos questão de cumprir desde a primeira hora”, realçou.
A Câmara de Pedrógão Grande e a Associação das Vítimas do Incêndio de Pedrógão Grande (AVIPG) afirmaram hoje que não estão associados ao projeto-piloto, ao contrário do que tinha sido dito pela Celpa, no comunicado de quinta-feira.
“O município de Pedrógão Grande, em 2020, não fez parte de qualquer parceria nesse âmbito, sendo totalmente alheio ao conteúdo da notícia adiantada”, disse o presidente da autarquia, em mensagem escrita enviada à Lusa.
Também a AVIPG salientou que não tem qualquer parceria no projeto e que a participação da associação se centra num apelo, num vídeo publicitário da Celpa no contexto daquele projeto, para que outras entidades possam contribuir para o ordenamento do território, através de outras fileiras, como a do sobreiro, pinheiro ou medronheiro.
“Foi a Celpa a única a trazer ao território apoio efetivo para a limpeza e plantação. Outros teóricos com os seus estudos estão convidados a construir a paisagem ideal, que todos sempre desejámos, neste território ao abandono”, salientou a associação, referindo que as parcerias estabelecidas entre a AVIPG e aquela associação que representa as celuloses centra-se na limpeza e gestão de propriedades e na execução de faixas de 100 metros de segurança em várias aldeias do território.
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