Hoje foi o pior dia da pandemia em Portugal. Nas últimas 24 horas o boletim da DGS reporta um novo máximo de mortes, casos e internamentos. Os doentes recuperados são menos de metade do que os novos infetados e há novos picos nos internados em enfermaria e nos cuidados intensivos. Há atualmente 100 mil casos ativos no país. E, segundo as contas do Público, morreram quase tantas pessoas esta semana por covid-19 como em todo o verão.
O que se segue não deverá ser ser surpresa para ninguém. Falo, claro, de novas medidas de restrição para conter a pandemia e travar o número crescente de infeções. Se António Costa já tinha admitido a hipótese de um novo confinamento (mas a mantendo as escolas abertas e as aulas), ontem durante o debate com Vitorino Silva, na RTP3, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que, mediante um agravamento da situação, "há em cima da mesa dois cenários". E especificou quais.
"O primeiro cenário é de regressarmos a quatro mil, cinco mil, seis mil casos por dia", explicou, o que "significaria regressar àquilo que era o regime vigente até agora". Porém, caso o número de infeções continuasse "neste ritmo mais elevado", "então aí vai ter que se ponderar um confinamento muito mais rigoroso, exceto por ventura o encerramento de escolas". Ora, nos últimos três dias os casos rondam os 10.000.
Pelo que não admira que esta sexta-feira a ideia de um possível novo confinamento saiu reforçada quando o Governo, pela voz do ministro de Estado e da Economia, Siza Vieira, admitiu voltar a encerrar restaurantes e comércio não alimentar. Contudo, se o período de 15 de restrições avançar, o executivo irá ativar os mecanismos para reforçar os apoios aos trabalhadores e às empresas.
"O que devemos ponderar como plausível é o quadro que vigorou em abril e na primeira quinzena de maio. Mantivemos a indústria, a construção e o retalho alimentar a funcionar e a restauração funcionava em regime de take-away ou de entrega ao domicílio", frisou o governante, que deu conta de que aquilo que se pretende é um "momento de travagem".
Assim, qual é cenário possível nos próximos dias? Segundo explicou ao Público, Henrique Barros, especialista em saúde pública e epidemiologista do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, "se ficarmos pelos 10 mil já é extraordinariamente bom". Porém, frisa que o confinamento "resolve o problema", mas ao mesmo tempo vai criar "toda uma série de outros problemas".
Mas quer isto dizer que estamos a verificar as nuances esperadas das épocas festivas? Fazendo jus às declarações dos especialistas ouvidos pelo Expresso, não há dúvidas. Um deles, Henrique Oliveira, matemático e professor do Instituto Superior Técnico (IST), explica que a densidade de deteção aumentou. "Ou seja, a percentagem de positivos face ao número de testes realizados aumentou muito", disse.
Hoje foi o pior dia da pandemia em Portugal. E os cenários de Marcelo não são favoráveis — há um menos mau. Mas se o coração e esperança esperam que a situação não escale, a razão lembra que o mais provável será que hoje seja o pior dia da pandemia até vir o próximo. Aguardemos então enquanto esperemos para que isso não aconteça.
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