Em comunicado enviado à agência Lusa, aquela arquidiocese especifica que as medidas passaram pela “necessidade de o suspeito se abster de exercer publicamente o seu ministério sacerdotal e, de modo particular, a celebração pública dos Sacramentos da Eucaristia e da Reconciliação, devendo recolher-se num clima de oração, reflexão e penitência”.
“É com dor e sofrimento que a Arquidiocese de Braga tem vindo a acompanhar, nestes últimos dias, através da comunicação social, o relato de homens e mulheres vítimas de abusos por parte do Cónego Manuel Fernando Sousa e Silva”, refere o comunicado.
O jornal Nascer do Sol publicou em 17 de setembro uma reportagem sobre “os abusos sexuais de menores praticados em Joane durante décadas por um sacerdote, o cónego Fernando Sousa e Silva”.
Na sexta-feira, o jornal i dá conta de relatos de abusos sexuais por parte de Fernando Sousa e Silva, em Joane, alegadamente cometidos ao longo de décadas, sobretudo no confessionário. "Muitas vítimas pontapearam o fantasma denunciando-o nas redes sociais”, e “não se escondem atrás de nomes falsos e dão o rosto”, lê-se no matutino.
Na noite de sexta-feira, a RTP1 passou igualmente uma reportagem sobre o assunto, que hoje regressou às páginas dos jornais.
A arquidiocese pede perdão a todas as vítimas, “feridas física, emocional e espiritualmente pelos abusos sofridos”, um pedido que estende às famílias das vítimas e a todos os agentes pastorais da Paróquia de Joane e a toda a comunidade cristã.
“A comunidade paroquial tem sido sujeita a uma forte exposição mediática que reaviva memórias dolorosas, mas que contribui para trazer à luz factos que nunca deveriam ter acontecido. Reconhecemos que, neste caso, a Igreja falhou no seu dever de proteger os mais frágeis e vulneráveis”, acrescenta.
Refere que, em 21 de novembro de 2019, chegou à Comissão de Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis da Arquidiocese de Braga (CPMAV) uma denúncia por parte de uma vítima, relatando ter sofrido abuso sexual por parte do referido sacerdote.
Esta vítima mencionou a existência de outras vítimas.
“Dentro dos limites das suas competências, a Comissão diligenciou no sentido de identificar estas e outras possíveis vítimas, mas sem sucesso”, lê-se ainda no comunicado.
Dois anos mais tarde, chegou à Comissão mais uma denúncia.
“Tendo a CPMAV enviado os relatórios relativos às duas denúncias à autoridade eclesiástica competente, o então arcebispo de Braga [Jorge Ortiga] criou, em janeiro de 2022, uma Comissão de Investigação Prévia, em conformidade com as normativas eclesiásticas à data em vigor. Em maio de 2022, o atual arcebispo de Braga [José Cordeiro] enviou todos os elementos recolhidos para o Dicastério para a Doutrina da Fé”, sublinha o comunicado.
Em julho de 2022, e “em sintonia com o mesmo Dicastério”, foram impostas as referidas medidas disciplinares ao sacerdote em causa.
“Reconhecemos que não conseguimos ser mais céleres no tratamento do caso e mais eficazes no acompanhamento das vítimas, o que lamentamos”, admite a arquidiocese.
Vinca que a CPMAV “disponibilizará de imediato, no âmbito das suas competências, um serviço de escuta destinado a todos quantos desejem partilhar as suas dolorosas experiências”.
O serviço estará disponível na paróquia de Joane de forma presencial, sendo ainda possível recorrer ao mesmo por via telefónica ou por correio eletrónico.
Os novos testemunhos que, entretanto, possam chegar à Arquidiocese “poderão permitir uma leitura mais completa do caso e possivelmente justificar novos procedimentos”.
A arquidiocese apela a todos os que possam ter sido vítimas de qualquer espécie de abuso sexual em alguma paróquia ou instituição para contactarem a CPMAV.
“Confiamos que a nossa Igreja saberá abrir-se a um novo futuro, marcado pelo reconhecimento humilde e transparente dos seus erros e pecados, pelo acolhimento das vítimas e pela prioridade de criação de uma cultura de prevenção e cuidado”, remata o comunicado.
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