António Costa deixou estas advertências em declarações aos jornalistas no final da V Cimeira dos Países do Sul da Europa, que se realizou em Nicósia, e na qual os sete Estados-membros deste grupo rejeitaram a possibilidade de renegociar o acordo do ‘Brexit’ com o Governo liderado pela primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May.

"Considero que há uma ilusão que não se deve desenvolver no Reino Unido no sentido de se pretender transferir para a Europa problemas políticos internos. Essa não é uma boa solução", declarou o primeiro-ministro português.

Segundo António Costa, ao longo dos últimos dois anos, "houve um trabalho muito sério com as autoridades britânicas e não é depois de o acordo estar concluído que se diz que é preciso reabrir, sobretudo quando não há uma posição clara" da parte das autoridades britânicas.

"Se há quem no Reino Unido pretenda organizar um segundo referendo, então que organize o referendo; se há quem queria fazer eleições, então que se façam eleições. Mas, não coloquem sob a União Europeia um ónus que não pode ser o seu. Fizemos um acordo e a senhora [Theresa] May festejou esse acordo", apontou o primeiro-ministro.

Neste ponto, António Costa procurou frisar que obter um acordo entre 27 Estados-membros nas negociações com o Reino Unido "foi um trabalho difícil", que exigiu "cedências de cada um".

"Há que evitar uma saída descontrolada do Reino Unido e foi feito um acordo que já tem duas declarações interpretativas para que ninguém tenha dúvidas. Mas, não se pode reabrir um processo com base numa suspeição de que se pretende montar uma armadilha, ou atravessar o Reino Unido. Espero que este acordo seja aprovado, ou melhor ainda, que o Reino Unido decida manter-se na União Europeia", declarou.

Antes, no mesmo sentido de António Costa, o Presidente da República de França, Emmanuel Macron, rejeitou em absoluto a possibilidade de se reabrir as negociações do ‘Brexit’ com o Governo de Theresa May.

"Este foi o melhor acordo possível e não é renegociável. Ninguém quer uma saída sem acordo do Reino Unido", salientou o chefe de Estado francês.

Na declaração final, Emmanuel Macron, citou também uma posição antes defendidas pelo primeiro-ministro português na cimeira de Nicósia, segundo a qual os líderes europeus precisam de apresentar aos cidadãos "uma visão clara de futuro" sobre a União Europeia.

"As próximas eleições para o Parlamento Europeu, em maio próximo, vão ser as mais importantes de sempre", sustentou o chefe de Estado de França, já depois de ter defendido uma União Europeia "mais integrada, com um maior orçamento da zona euro".

Na sua intervenção final na cimeira, o primeiro-ministro português alertou ainda para a urgência da conclusão da reforma da União Económica Monetária, após fazer uma alusão às variações dos ciclos financeiros ao nível internacional.

"Hoje a União Europeia está a crescer, mas a recuperação económica não é imparável. A economia tem ciclos e devemos saber que este é o momento para nos prepararmos para o ciclo seguinte", advertiu.

Nesse sentido, António Costa considerou fundamental a "conclusão da reforma da zona euro, da união bancária e a discussão do projeto concreto para a criação de um orçamento da zona Euro para a competitividade e a convergência".

"Este foi o mandato claro dado ao Eurogrupo no último Conselho Europeu de Dezembro, com um calendário preciso que deve ser respeitado. Se o fizermos, fortalecermos a zona euro, mas, igualmente, a União Europeia no seu conjunto", acrescentou.


Notícia atualizada às 20:23