Num comunicado divulgado hoje em São Tomé, os dois antigos presidentes e também o antigo presidente da Assembleia Nacional Leonel Mário d’Alva afirmam-se “profundamente preocupados com o elevado nível de tensão política e crispação social que se instalou no país”, após as legislativas, autárquicas e regional do Príncipe de 7 de outubro, “com a ocorrência de episódios de uma rara violência nunca antes registados na história” desta “jovem democracia”.
Para estes políticos históricos, “a persistência desse clima apresenta riscos de agravamento, com consequências imprevisíveis e incontroláveis, suscetíveis de pôr em causa a coesão social, a segurança das pessoas e dos seus bens, assim como a boa imagem de São Tomé e Príncipe no plano internacional”.
“Urge que os ânimos serenem e que a razão e o bom-senso se sobreponham às paixões partidárias”, defendem.
Sobre os confrontos que ocorreram na segunda-feira passada, numa manifestação que contestava o apuramento dos votos nulos e brancos na comissão eleitoral do distrito de Água Grande, em São Tomé, lamentam “tais atos de violência e de destruição, contrários às tradições ancestrais da cultura de paz do povo são-tomense”.
Os antigos responsáveis exortam os políticos “de todos os quadrantes a absterem-se de proferir declarações que possam incitar à violência e conduzir ao agravamento da tensão política e social reinante”.
No comunicado, convidam “as formações políticas que participaram nas eleições para um encontro em busca de uma saída pra a atual crise” e pedem que todos aguardem “serenamente a proclamação dos resultados definitivos” do escrutínio, pela entidade competente – espera-se para esta semana que o Tribunal Constitucional divulgue os dados oficiais das legislativas.
Os antigos políticos pedem que “todos os atos relativos ao apuramento dos resultados eleitorais sejam efetuados no estrito cumprimento da Constituição e das leis”.
Por outro lado, apelam para que se pare de divulgar “informações falsas e manipuladoras da opinião pública, nomeadamente nas redes sociais”.
Exprimem ainda “o desejo de que o processo de formação do próximo Governo decorra com toda a normalidade, no respeito da lei e na salvaguarda da estabilidade política”.
Por fim, os políticos felicitam a população “pela forma maciça, ordeira e pacífica como participou no processo eleitoral”, que registou uma abstenção de 19,35%.
Miguel Trovoada, pai do atual chefe do Governo, Patrice Trovoada, foi primeiro-ministro entre 1975 e 1979 e Presidente da República entre 1991 e 2001, e pertence à Ação Democrática Independente (ADI).
Pinto da Costa, antigo membro do Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe – Partido Social Democrata (MLSTP-PSD), foi Presidente entre 1975 e 1991 e de 2011 a 2016. Mário d’Alva foi primeiro-ministro num governo de transição (1974/75) e presidente da Assembleia Nacional entre 1975 e 1980, pertencendo ao Partido da Convergência Democrática (PCD).
Segundo os resultados provisórios, a ADI venceu as eleições legislativas com maioria simples, alcançando 25 dos 55 lugares na Assembleia Nacional, seguida do MLSTP, com 23 deputados eleitos.
A coligação opositora, formada pelo PCD-UDD-MDFM, conseguiu cinco deputados, e foram ainda eleitos dois deputados independentes pelo distrito de Caué.
A oposição, que consegue, em conjunto, 28 lugares no parlamento, reclamou maioria absoluta, mas o primeiro-ministro disse esperar que o Presidente da República, Evaristo Carvalho, chame a ADI para formar Governo.
Na segunda-feira, centenas de pessoas manifestaram-se na capital, junto à sede da comissão eleitoral do distrito de Água Grande, afirmando recear a alteração de votos a favor do partido no poder, quando uma juíza procedia a uma verificação dos votos nulos e brancos, que a oposição disse ser ilegal.
A manifestação acabou por originar violência, com o carro da juíza a ser vandalizado e incendiado, obrigando à intervenção dos polícias de Estado (conhecidos como ‘ninjas’), que dispersaram as pessoas com tiros disparados para o ar, gás lacrimogéneo e granadas de fumo.
“Espero que as pessoas tenham calma e que os agentes políticos ponham os interesses políticos acima dos interesses pessoais e, de facto, olhem para este país com perspetivas de futuro e evitando estas situações de violência, que não levam a nada”, pediu.
Na quinta-feira, a Polícia Nacional proibiu as manifestações até 72 horas após o anúncio dos resultados definitivos, pelo Tribunal Constitucional, das eleições.
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