No quadro denominado "assunto", o relatório, datado de 11 de abril de 1974, tem um título evocativo: "Decisão do Presidente brasileiro Ernesto Geisel de acompanhar as execuções sumárias de elementos perigosos e subversivos sob certas condições".
Ernesto Geisel, que morreu em 1996, foi o penúltimo Presidente da ditadura militar que governou o Brasil entre os anos de 1964 e 1984.
O documento (tornado público em 2015, mas que passou despercebido) foi escrito pelo então diretor da CIA, William Colby, para o secretário de Estado norte-americano Henry Kissinger.
De acordo com o documento, o Presidente Ernesto Geisel disse ao general João Baptista Figueiredo, chefe do Serviço Nacional de Inteligência (SNI) - que o sucedeu cinco anos depois como chefe de Estado brasileiro - que as execuções sumárias já praticadas deveriam continuar.
"Este é o documento mais perturbador que já li em vinte anos de pesquisa", disse Matias Spektor, pesquisador da Fundação Getulio Vargas, que descobriu o conteúdo do relatório que foi hoje amplamente divulgado pela imprensa brasileira.
"Em 01 de abril de 1974, o Presidente Geisel disse ao general Figueiredo que esta política deveria continuar, mas que muito cuidado devia ser tomado para garantir que apenas elementos subversivos perigosos fossem eliminados", diz o relatório.
A Comissão Nacional da Verdade (CNV), criada em 2011 para destacar os abusos da ditadura militar brasileira, revelou após três anos de investigação que 434 pessoas morreram ou desapareceram neste período.
Mas o Brasil, ao contrário de outros países latino-americanos que também experimentaram regimes de ditadura militar nos anos 1970 ou 1980, nunca processou os responsáveis por essas execuções por causa de uma lei de 1979 que concedeu amnistia aos policias e militares acusados de violar os Direitos Humanos.
Para Vera Rotta, que foi membro da Secretaria de Direitos Humanos durante o Governo do ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, esse relatório envolve, de maneira singular, os líderes mais graduados do Estado brasileiro.
"Nunca tínhamos tido um documento previamente escrito em que foi escrito explicitamente: 'Vamos executar (os oponentes'".
"Os militares sempre disseram que as execuções eram casos isolados", vincou.
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