Em termos de cerimónias oficiais, condicionadas devido à pandemia de covid-19, os 45 anos da “Dipanda” começam em Luanda pelas 07:00 com o içar da bandeira, no Museu Central das Forças Armadas Angolanas.
Duas horas mais tarde, será a vez da deposição de uma coroa de flores no Memorial Dr. António Agostinho Neto.
O Presidente da República, João Lourenço, inaugura pelas 10:00 o Hotel Intercontinental, no Miramar, nacionalizado em outubro por ter sido construído com recurso a fundos públicos e que pertence agora integralmente à Sonangol, a petrolífera estatal que foi presidida por Manuel Vicente também ex-vice-presidente de Angola.
Pela mesma hora, deverão estar a dirigir-se para o Largo de Santa Ana, os jovens e ativistas que prometem marchar até ao Largo 1.º de maio (Largo da Independência), reivindicando melhores condições de vida e eleições autárquicas em 2021.
O Governo Provincial de Luanda proibiu a marcha invocando incumprimento de horário, falta de moradas e as medidas vigentes na atual situação de calamidade pública, mas os organizadores desafiam a proibição que dizem não ter bases legais e mantêm a intenção de sair às ruas.
Noutras províncias chegam relatos de detenções de ativistas e coordenadores de protestos semelhantes e o ministro do Interior, Eugénio Laborinho, afirmou na segunda-feira, em Benguela, que as forças de segurança não vão permitir ajuntamentos com mais de cinco pessoas, em obediência ao decreto presidencial que atualizou a situação de calamidade pública.
“Não garanto [que não haja confronto], desde que respeitem a lei… e também a segurança pública”, disse o ministro, sublinhando que, “pacificamente, as pessoas estão autorizadas, mas devem respeitar o decreto, ajuntamento com mais de cinco pessoas é violação”.
Em 24 de outubro, uma manifestação convocada pelos mesmos organizadores foi fortemente reprimida pela polícia e terminou em Luanda com a detenção de cerca de uma centena de manifestantes, incluindo jornalistas, libertados uma semana depois.
Nos últimos dias, organizações não-governamentais e partidos da oposição têm destacado o direito das pessoas a manifestarem-se, enquanto as autoridades e representantes do partido no poder, Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), falam de incitação à violência e à desordem e multiplicam apelos à paz social e ao patriotismo.
O Presidente João Lourenço criticou na terça-feira quem está a tirar proveito político da atual situação mundial, “que não foi criada pela boa ou má atuação dos governos”, lembrando que as medidas adotadas se destinam a salvar vidas.
João Lourenço, que discursava numa cerimónia de homenagem às categorias profissionais que se têm destacado na luta contra a pandemia de covid-19, frisou que as medidas que o executivo determinou no decreto presidencial em vigor “visam salvar a vida dos angolanos, e, portanto, devem ser acatadas pelos cidadãos”.
Já o Bureau Político do MPLA exortou os angolanos a participarem “de forma patriótica” nas atividades comemorativas dos 45 anos da independência do país.
“A estabilidade social e política são bens inalienáveis arduamente conquistados com suor, sangue e lágrimas consentidos pelos melhores filhos da nossa amada pátria”, salientou o órgão do partido no poder.
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