Num comunicado conjunto, a recém-criada Associação Sistema Terrestre Sustentável (ZERO) e o Fundo para a Proteção dos Animais Selvagens (FAPAS) exigem medidas de reabilitação dos rios "para que estes deixem de ser olhados como meros sistemas hidráulicos que escoam a água". Na visão destas duas associações, os rios devem ser "percecionados como ecossistemas complexos, que prestam serviços de valor incalculável" às populações.
"Numa altura em que a sociedade portuguesa se vê confrontada com casos mediáticos de poluição que se pensavam há muito resolvidos, dos quais é bom exemplo o rio Tejo, é preciso não esquecer que os nossos cursos de água também continuam ameaçados pela interrupção da continuidade fluvial", alertam.
As duas associações apontam as grandes barragens e mini-hídricas e "uma grande quantidade de açudes que estão hoje obsoletos, degradados ou sem utilização", como causadores dessa interrupção no fluir da água dos rios. Defendem a sua remoção como a opção mais favorável, não só do ponto de vista ambiental, mas também económico.
A Ribeira do Vascão e os rios Alfusqueiro e Nabão são os exemplos de cursos de água que os ambientalistas apresentam como melhor "alvo imediato de investimentos de pequena monta, tendo em vista o restabelecimento da continuidade fluvial". Segundo a mesma fonte, o rio Alfusqueiro, que desagua no Águeda, "tem 10 açudes num troço de 14 quilómetros de extensão, com sete a impediram a passagem de peixes e muitos sem qualquer função ou utilidade".
Por seu turno, a Ribeira do Vascão, que é afluente do Guadiana, "tem 32 obstáculos, dois estão obsoletos e mais de metade têm impacto significativo no que toca à passagem de espécies muito ameaçadas, como o Saramugo". O rio Nabão, afluente do rio Zêzere, "tem 16 açudes e mais de uma dezena poderia ser removida de imediato", defendem.
Os ambientalistas sustentam que os obstáculos à fluidez normal das águas dos rios ameaçam atualmente 27 espécies em risco de perda do seu habitat.
No que respeita à reavaliação do Programa Nacional de Barragens com Elevado Potencial Hidroelétrico, ambas as associações reiteram a sua oposição à construção de novas barragens.
No comunicado, exigem ainda que, "num contexto em que está a ocorrer uma reavaliação deste plano por parte do Ministério do Ambiente, este assunto tenha uma discussão alargada e informada, com uma clarificação dos compromissos do Estado e uma análise custo-benefício atualizada da viabilidade e dos principais impactes de cada um dos empreendimentos".
Por último, defendem que o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas deve avançar já com um Cadastro Nacional de Continuidade Fluvial, informação que, a ser obtida, "permitirá delinear uma estratégia nacional de reabilitação fluvial, e aproveitar eficazmente o novo quadro comunitário de apoio em curso".
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