Lucas Skupin usa o lema da nova presidência “Juntos pela recuperação da Europa” para resumir o impacto que a pandemia de covid-19 vai ter no programa dos próximos 18 meses, em que a Alemanha, Portugal e a Eslovénia, vão liderar o Conselho da UE.
Para o investigador em temas europeus, o quadro financeiro plurianual, as migrações, a digitalização e inovação ou o ‘green deal’ são temáticas obrigatórias na agenda, mas “sempre relacionadas com as medidas de resposta à crise provocada pelo coronavírus”.
Como a Alemanha está muito voltada para as exportações, é vital, sublinha, que a “recuperação económica de toda a Europa, e também dos parceiros comerciais de fora da Europa, seja bem-sucedida”.
“A situação atual não vai prejudicar drasticamente o poder da Alemanha, porque o país tem lidado bem com a pandemia até agora. Se o comércio recuperar nos próximos tempos, a Alemanha deve ficar bem”, salientou um dos organizadores da conferência preparatória da presidência “German Pre-Presidency Conference”, que se realizou virtualmente a 25 e 26 de junho.
“A Alemanha depende muito da Europa e do mundo e, por isso, está disposta a contribuir em grande escala para os fundos de recuperação e novo orçamento da União Europeia. Até é possível que a nível europeu a Alemanha (e a França) ganhem influência com esta crise, mas isso ainda não é certo”, frisou Lucas Skupin em declarações à agência Lusa.
Para Konrad Beyer, consultor com formação em biologia molecular, “a Alemanha conseguiu lidar bastante bem com a primeira onda da pandemia”, sendo “um dos países que respondeu mais rapidamente à doença.” A isso, junta “mais algum tempo de preparação” e “alguma sorte”.
Em entrevista à Lusa, admite, sem qualquer dúvida, que a pandemia de covid-19 dominará toda a presidência, acreditando que a Alemanha está pronta para o desafio.
“Terá impacto na nossa economia, sem dúvida, mas temos bastante mais sorte que outros países, como Itália. Não sei se o nosso poder sairá reforçado desta crise provocada pela pandemia de covid-19, mas estou certo de que estaremos em boa forma”, acrescentou.
As transformações verde e digital ou o combate às alterações climáticas foram algumas das prioridades já definidas para a liderança tripartida do Conselho da União Europeia nos próximos 18 meses.
“Considero que esta crise pode até ajudar a acelerar alguns dos objetivos desta presidência. Por exemplo, no que respeita ao ambiente, penso que os comportamentos já estão a mudar. Antes da pandemia tinha de viajar em trabalho, uma vez cada cinco semanas, para Boston [Estados Unidos]. Tivemos de passar a fazer tudo através de chamadas de vídeo e correu bem”, exemplificou Konrad Beyer.
Christoph Oldenburg acredita que a pandemia de covid-19 vai dominar, não só os próximos meses, como também os próximos anos.
“Até agora conseguimos lidar com a crise bastante bem, o nosso sistema de saúde já provou ser bastante poderoso e bem-sucedido. Acredito que este é um fator adicional que dá força à economia alemã”, realçou.
Para o executivo da empresa Catenion e presidente da “German-Russian Young Leaders Conference” um dos objetivos chave da Alemanha será “manter a UE unida”.
“Com o ‘Brexit’ e com a crise dos refugiados e outros acontecimentos, acredito que isso terá uma atenção reforçada. Especialmente porque a Alemanha é, muitas vezes, acusada de ser a autora e de impor políticas de austeridade”, avançou.
A saída definitiva da política, anunciada pela chanceler Angela Merkel, terá também um peso nesta presidência, mas “já teria de qualquer forma, mesmo sem coronavírus”.
“Tenho curiosidade em perceber se ela vai mesmo sair. Há quem diga que não, mas eu não acredito. Penso que ela continuará a ter um papel relevante, mas não com a importância dos últimos 15 anos, claramente. Penso que isso terá impacto na Alemanha e nesta presidência”, considerou.
“Não encontro ninguém com um perfil comparável nesta altura. Vejo algumas pessoas que podem vir a ser bons chanceleres, mas não com a dimensão de Merkel”, frisou Christoph Oldenburg.
Depois de 2007, a Alemanha, Portugal e Eslovénia voltam a assumir a presidência do Conselho da União Europeia que começa a 01 de julho, com cada um dos três países a exercer um mandato de seis meses.
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