Em Vila Facaia, Maria, 86 anos, diz que já deu "quatro ou cinco entrevistas". Agora, "deixem-me em paz, que quero chorar a minha vizinha" que morreu, carbonizada, perto da Estrada Nacional 236-1, que todos agora chamam de "estrada da morte".
Não quer falar e refugia-se no xaile negro, à espera que a deixem. O cansaço é evidente, dantes pelo fogo que rondava as casas e agora pelo bulício diário de operadores de proteção civil, assistentes sociais e jornalistas.
A poucos quilómetros, na Graça, António diz que já falou "demais" com jornalistas. "Até dei entrevistas em inglês e eu não sei inglês".
No Nodeirinho, José Santos pediu aos jornalistas que se vão embora: "vocês já fizeram o vosso trabalho, nós percebemos, mas agora deixem-nos".
Já em Foz do Alge, concelho de Figueiró dos Vinhos, onde o fogo só esteve perto, a conversa foi a mesma.
"Nunca vi tanto jornalista junto", diz Manuel Batista Antunes.
No local, estão centenas de jornalistas a trabalhar, com equipas de todos os principais órgãos de comunicação social nacional e muitos internacionais.
Nas ruas e estradas por onde o fogo andou, ouve-se falar todas as línguas. "Já falei a ingleses, espanhóis e franceses, por acaso você é o primeiro português que encontro", disse, sorrindo, à Lusa o voluntário João Ponciano.
Carlos David, presidente da direção dos bombeiros de Pedrógão Grande, diz que a "poeira ainda não assentou" e ainda falta aprender a viver com "a dor da perda" de amigos próximos.
"Perdemos gente que conhecíamos. Isso é duro. Ainda não estamos a viver isso, precisamos que toda a gente saia, que isto acalme, para começarmos a fazer o nosso luto", explica o dirigente associativo.
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