O Grupo VITA foi criado pela Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) na sequência do trabalho da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica que validou 512 testemunhos de casos ocorridos entre 1950 e 2022, apontando, por extrapolação, para um número mínimo de 4.815 vítimas.

Em abril de 2024, a CEP aprovou a criação de um fundo, “com contributo solidário de todas as dioceses”, para compensar financeiramente as vítimas de abusos sexual no seio da Igreja Católica em Portugal. Até agora, foram solicitados 61 pedidos de compensação financeira (40 pedidos foram solicitados por homens e 21 por mulheres).

Apresentado hoje, o terceiro relatório do Grupo VITA contém dados relativamente aos casos de abuso na Igreja em Portugal entre entre maio de 2023 e dezembro de 2024.

No total, foram sinalizadas às estruturas eclesiásticas um total de 70 situações e 25 à PGR/PJ. O grupo sinalizou, durante ano e meio, 47 casos às comissões diocesanas — a maioria em Lisboa (10) e no Porto (9).

Pedidos de ajuda:

  • Desde que entrou em funcionamento, o Grupo VITA recebeu 587 chamadas telefónicas: 322 em 2023 e 265 em 2024. Contudo, "estas chamadas não correspondem exclusivamente a situações de violência sexual no contexto da Igreja";
  • No total, entre telefonemas, formulário e email, foram identificadas 118 vítimas de violência sexual (69 em 2023 e 49 em 2024);
  • Foi também identificada "uma pessoa (leigo) que cometeu crimes sexuais no contexto da Igreja". Este caso "tinha já sido sinalizada às entidades competentes (penais e canónicas)" e a "pessoa foi encaminhada para apoio psicológico para um profissional da Bolsa do Grupo VITA";
  • Foram realizados 68 atendimentos, presenciais ou online, com vítimas de violência sexual;
  • 19 vítimas pediram apoio psicológico regular e cinco apoio psiquiátrico.

Associações de apoio especializado à vítima de violência sexual:

Quebrar o Silêncio (apoio para homens e rapazes vítimas de abusos sexuais)
910 846 589
apoio@quebrarosilencio.pt

Associação de Mulheres Contra a Violência - AMCV
213 802 165
ca@amcv.org.pt

Emancipação, Igualdade e Recuperação - EIR UMAR
914 736 078
eir.centro@gmail.com

Vítimas:

  • Maioria é do sexo masculino (59.7%);
  • Apenas uma vítima não é portuguesa;
  • Idade atual das vítimas varia entre 19 e 75 anos (média de 53.98 anos);
  • 37.1% das vítimas são solteiras e 29.1% estão numa relação;
  • A maioria tem filhos (64.5%);
  • 30.7% reside atualmente na região de Lisboa e Vale do Tejo e 29.0% na região Norte;
  • 37.1% tem formação superior;
  • 50.0% trabalha em setores profissionais distintos e 21.0% encontram-se reformadas;
  • 54.8% das vítimas consideram-se católicas;
  • Primeira situação de violência sexual ocorreu entre os 5 e os 25 anos;
  • Maioria das vítimas (67.7%) vivia com a família e 31% vivia em instituição;
  • Abusos aconteceram entre 1960 e 2024 (maioria no século XX);
  • Maioria não apresentou denúncia às estruturas da Igreja (82.3%), nem à polícia ou Ministério Público.

Agressores:

  • Maioritariamente homens (98.4%) e sacerdotes (91.8%);
  • 83.9% dos agressores são identificados pelas vítimas;
  • Idade aproximada do agressor varia entre os 20 e os 70 anos;
  • Um terço das situações (32.3%) ocorreram na Igreja e cerca de um quarto (25.8%) em instituição;
  • Para 18 vítimas, as situações abusivas ocorreram na casa do padre, no seu carro, no seu gabinete, na sua casa de férias ou na casa paroquial;
  • Comportamentos mais frequentes são toques/carícias em outras zonas erógenas do corpo (55.0%) e manipulação dos órgãos genitais (36.7%);
  • A pessoa que cometeu a violência não reconheceu a agressão e não pediu desculpa na quase totalidade dos casos (91.9%);
  • O agressor utilizava a religião como uma ferramenta de controlo e justificação para as suas ações;
  • Intimidação e o medo também eram estratégias utilizadas, bem como manipulação emocional.

Impacto físico/psicossomático e cognitivo nas vítimas: 

  • Alterações nos padrões do sono (33.9%);
  • Dificuldades/disfunções sexuais (25.8%);
  • Alteração ao nível das crenças religiosas (40.3%);
  • Pensamentos ruminantes/intrusivos (29%).

Impacto emocional: 

  • Irritabilidade/raiva (56.5%);
  • Medo (32.3%);
  • Tristeza (43.5%);
  • Vergonha (48.4%).

Impacto comportamental:

  • Isolamento (32.3%);
  • Evitamento de situações/locais/pessoas/atividades/temas (29%);
  • Agressividade (17.7%);
  • Tentativas de suicídio (14.5%).

Materiais para sensibilização:

"Desde que iniciou funções, o Grupo VITA tem também priorizado a realização de iniciativas de sensibilização e capacitação", através da "criação de recursos e canais de comunicação" que permitam "aumentar a literacia sobre o tema da violência sexual, no contexto da Igreja e não só".

Estes são alguns desses conteúdos:

  • "CONHECER. PREVENIR. AGIR. Manual de Prevenção da Violência Sexual contra Crianças e Adultos Vulneráveis no contexto da Igreja Católica em Portugal";
  • "KIT VITA – Recurso prático para ações de capacitação sobre a violência sexual no contexto da Igreja Católica em Portugal";
  • "VAMOS FALAR DE PROTEÇÃO!" — Brochura para adultos;
  • "SEGURANÇA ONLINE" — Brochura para jovens;
  • "MARCADOR ESTOU SEGURO/A" — Marcador de livros para crianças colorirem;
  • Ações de formação e capacitação para estruturas da Igreja, desde padres a catequistas (cerca de 2700 pessoas já participaram).