Com o nome científico de ‘Heterocaucaseuma deprofundum’, segundo a bióloga, “uma referência ao facto de ser o milpés que ocorre a maior profundidade”, a nova espécie foi descoberta a mais de mil metros de profundidade, numa expedição ibero-russa do Cavex Team à gruta mais profunda do mundo, localizada na Abecássia, no Cáucaso Ocidental.
Trata-se de um milpés ou millípede, comummente conhecidos como "maria-café”, um animal cavernícola que “vive debaixo de terra e por isso carece de pigmento corporal, tem olhos muito reduzidos, antenas e patas muito longas e alimenta-se de detritos”, explicou hoje Ana Sofia Reboleira à agência Lusa.
A nova espécie, descrita agora na revista Zootaxa, pertence a uma ordem de milpés “que se chama ‘Chordeumatida’ e é um dos maiores exemplares desta ordem”, revelando uma tendência para o gigantismo “muito pronunciada nos animais cavernícolas, tal como acontece com as faunas das ilhas”, acrescentou a bióloga.
Os exemplares da espécie foram recolhidos nas grutas Krubera-Voronja e Sarma, atualmente a segunda e terceira grutas mais profundas do mundo, pela bióloga, que é também espeleóloga, o que tem contribuído para que tenha descoberta várias novas espécies para a ciência em várias grutas do mundo.
“Ao contrário do que acontece no mar profundo, ou na exploração espacial, a tecnologia não permite que sejam veículos operados remotamente a realizar as colheitas, por isso, a única forma de descobrir estes animais é mesmo ir lá e proceder às recolhas nas profundezas destas cavidades”, sublinhou Sofia Reboleira.
Depois de recolhido, o milpés foi alvo de estudo taxonómico, com recurso à utilização de técnicas microscópicas avançadas, como a microscopia eletrónica de varrimento, que permite uma visão 3D da morfologia externa do organismo.
A descoberta do milpés encontrado “à maior profundidade de sempre”, e que “faz parte da comunidade de invertebrados mais profunda do planeta”, é, para a bióloga “extraordinariamente interessante para perceber a extensão da distribuição vertical de invertebrados no subsolo”.
O milpés mais profundo de sempre está depositado no Museu de História Natural da Dinamarca, parte da Universidade de Copenhaga onde Ana Sofia Reboleira é professora.
A publicação na revista Zootaxa resulta de um trabalho em colaboração com os investigadores Dragan Antic, da Universidade de Belgrado, e Ilya Turbarov, da Academia Russa das Ciências.
Com esta, aumentam para 44 as novas espécies descobertas pela bióloga que é também responsável pela descoberta de cinco novos géneros para a ciência, muitas delas em território nacional, colocando inclusivamente Portugal na lista dos pontos quentes ("hotspot") de biodiversidade subterrânea à escala mundial.
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