Quem se aventurar a descer a estrada íngreme e estreita da Serra da Gralheira que leva à Pena, encontra a aldeia onde vivem Ana e Alfredo Brito com as suas filhas menores, Mariana e Margarida. Lá vivem também Augusta e António Arouca.
Os moradores não baixam os braços e investem na aldeia ou incentivam familiares a fazê-lo. Falam, com entusiasmo, na abertura de um segundo restaurante e de alojamento local, que ainda não existe.
A Câmara de S. Pedro confirmou à agência Lusa o entusiasmo à volta da aldeia da Pena e os projetos que estão na calha, prometendo também dar o seu contributo para este dinamismo.
“Vamos fazer um conjunto de intervenções sobretudo na área pública, desde casas de banho públicas, sinalização, painéis de informação e renovação dos percursos pedonais, numa perspetiva de melhorar, ou de acompanhar, o fluxo cada vez mais crescente de turistas que temos, quer na aldeia, quer na serra envolvente”, explicou o vice-presidente da autarquia, Pedro Mouro.
O som dos martelos e dos serrotes sai do restaurante que Ana e Alfredo Brito exploram desde 2000 e que agora decidiram ampliar, para dar melhores condições a quem os visita.
“É bom sinal. Temos trabalhado muito, mas é complicado. De verão, vêm sempre mais turistas, mas, de inverno, a serra fechando com o nevoeiro, os dias são pequenos e as pessoas não vêm”, contou Alfredo Brito, de 47 anos.
O casal vivia em Lisboa, mas decidiu mudar-se para a aldeia onde Ana tinha raízes e passou parte da sua infância. Apesar de o início ter sido “mais duro”, para já, não há arrependimentos relativamente à mudança de estilo de vida.
“Tenho muitos animais, sou criador de vacas de raça arouquesa, crio de tudo. Vamos passando o tempo, vêm sempre uns clientes, nem sentimos o isolamento”, referiu Alfredo Brito.
Como Ana partilha da sua opinião e as filhas - uma de onze anos e outra quase a chegar à maioridade - “também se sentem bem”, Alfredo está otimista em relação ao futuro da aldeia da Pena.
“É um sítio diferente, para descansar e aliviar o stress”, afirmou, considerando que “não há dinheiro que pague” o sossego e o ar puro.
António Arouca tem 75 anos e a energia de quem acredita no poder de rejuvenescimento da natureza.
“Hoje, se ainda tivesse aí uma outra casa velha, eu ia reconstruí-la para alojamento local. Estava cá e tomava conta, eu e a minha mulher, não tinha problema nenhum”, frisou à Lusa.
A mulher de António é Augusta, que toma conta de uma lojinha de artesanato. Ela faz gorros, meias e outras peças de roupa, enquanto ele se dedica a miniaturas de casas de xisto e outras peças que exibe orgulhosamente.
Depois de 33 anos a viver em Lisboa, o casal decidiu reconstruir a casa que Augusta herdou dos pais e “fugir da cidade, da confusão”, para um recanto mais sossegado.
“Eu não estou na aldeia da Pena por estar, eu estou na aldeia da Pena por uma convicção. Quero estar no meio da natureza, ter a minha agricultura, ter as minhas abelhas, fazer o meu artesanato, ter os meus cães da caça. Vou para a caça, vou para a pesca…”, relatou António.
Na sua opinião, “a aldeia da Pena está numa evolução grande”, com a perspetiva de abertura do novo restaurante, do alojamento local e também da chegada das pessoas que ficarão responsáveis por estes investimentos e que são da sua família.
“As aldeias nunca têm coisas a mais, as aldeias têm é coisas a menos. E se tiverem muitas coisas que chamem as pessoas, como é o caso do turismo de habitação, as pessoas ficam”, frisou.
Por isso, António apela a quem tenha casas e ligações à Pena que repense a sua vida: “Fixem-se na sua aldeia, porque a aldeia precisa deles, não é só virem fazer férias, invistam o dinheiro”.
Uma das principais reivindicações dos moradores são os acessos à aldeia, criando soluções que permitam que os carros se cruzem uns com os outros na estrada.
“Eu percebo que quem vai lá a primeira vez tenha algum medo. Vamos criar algumas bolsas para que os carros possam passar mais facilmente uns pelos outros, melhorar o estacionamento, criar alguns ‘rails’ de proteção num ou outro local”, garantiu Pedro Mouro.
A Câmara de S. Pedro do Sul espera investir cerca de 100 mil euros nas obras de melhoramento das aldeias da Pena e de Covas do Monte.
O objetivo é o de que “essas obras venham a ser executadas ainda a tempo de serem disponibilizadas durante 2019” a quem visita as aldeias, frisou.
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