Cerca de dois anos passados desde as últimas legislativas, o país vai de novo às urnas e os socialistas fecham um ciclo: sai António Costa e entra Pedro Nuno Santos como secretário-geral e candidato a primeiro-ministro.
Com o legado da conquista da maioria absoluta e após oito anos de governação do ainda primeiro-ministro, da qual fez parte, Pedro Nuno Santos tem o desafio de levar os socialistas a eleições depois da demissão de António Costa na sequência de uma investigação judicial em que é visado.
Defensor dos resultados da solução política da “geringonça”, Pedro Nuno Santos não se comprometeu com qualquer cenário pós-legislativas, rejeitando apenas a possibilidade de viabilizar um governo minoritário do PSD.
Do lado social-democrata, o principal protagonista em cena também muda: após a demissão de Rui Rio na sequência da derrota do PSD nas últimas legislativas, Luís Montenegro vai a votos como candidato à chefia do Governo.
Montenegro já assumiu que só será primeiro-ministro se vencer as eleições, recusou repetidamente alianças com o Chega – “não é não” – e afirmou que está “aberto a dialogar e ponderar” coligações pré-eleitorais com o CDS-PP e o PPM.
O Chega é dos poucos partidos que deverá manter a liderança face às últimas legislativas, uma vez que, até agora, André Ventura é o único candidato ao cargo de presidente, que será eleito na convenção de janeiro, em Viana do Castelo.
Apesar do “não” de Montenegro, Ventura já afirmou que está disponível para formar Governo com o PSD, rejeitando um acordo de incidência parlamentar sem integrar o executivo.
Entre os novos protagonistas nas lideranças partidárias está também Rui Rocha, presidente da Iniciativa Liberal, que sucedeu a João Cotrim de Figueiredo - que desta vez vai a votos pelo círculo da Europa e será cabeça de lista na corrida às europeias, em junho.
A IL recusou coligações pré-eleitorais – apesar do almoço entre Rocha e Montenegro em maio – mas já se mostrou disponível para negociar uma solução à direita no pós eleições, mas sem o Chega.
À esquerda, Mariana Mortágua assumiu o cargo de coordenadora nacional do BE em maio, após a saída de Catarina Martins, e tem o desafio de levar os bloquistas a eleições depois da derrota pesada de 2022, na qual ficou com cinco dos anteriores 19 deputados.
Com 37 anos e vasta experiência política, Mortágua surge como a líder mais jovem entre os partidos com representação parlamentar e já disse que quer “sarar as feridas” da maioria absoluta socialista, à qual tem deixado duras críticas, recusando comprometer-se com uma eventual reedição da “geringonça”, mesmo admitindo que a solução de 2015 foi boa.
Na mesma linha, o novo secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, que sucedeu ao histórico comunista Jerónimo de Sousa, também tem criticado a maioria absoluta do PS e não se compromete com a possibilidade de uma nova “geringonça”, ao mesmo tempo que não a rejeita por completo.
Ao contrário da maioria dos partidos, PAN e Livre mantêm as lideranças face às últimas legislativas, com Inês Sousa Real e Rui Tavares, ambos deputados únicos que se propõem a eleger grupos parlamentares em março.
Perdida a representação parlamentar em 2022, o CDS-PP apresenta-se a eleições com um novo líder, Nuno Melo, após a demissão de Francisco Rodrigues dos Santos.
As eleições antecipadas de março foram convocadas pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, na sequência da demissão do primeiro-ministro, António Costa, que pode sair de cena agora, mas já admitiu que não tem idade nem vontade de “meter os papéis para a reforma”.
Será necessário esperar por dia 10 de março para saber que cenário de governabilidade terá o país, após cerca de dois anos de maioria absoluta socialista.
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