Pelo menos três pessoas foram mortas na manhã desta sexta-feira (23/03) numa tomada de reféns num supermercado em Trèbes, perto de Carcassonne, no sul de França. Segundo o mais recente balanço provisório oficial, citado na imprensa, os mortos são o passageiro do automóvel que o atacante roubou em Carcassonne, duas pessoas feitas reféns no supermercado Super U de Trèbes e ainda o próprio atacante, morto durante o assalto policial.
O ministro da Administração Interna francês anunciou nas redes sociais que o atirador foi abatido pela polícia. O homem esteve barricado com um polícia dentro do supermercado de Trèbes, já depois de ter libertado os reféns.
"O suspeito primeiro roubou um carro em Carcassonne, matou o passageiro e feriu o motorista, para depois disparar contra o ombro de um polícia nas proximidades do batalhão local. Depois, matou duas pessoas durante uma tomada de reféns no supermercado da localidade de Trèbes", que fica a 15 minutos de Carcassone, indicaram as fontes da investigação, ouvidas pela France-Presse.
Segundo estas fontes, o homem, de 26 anos e já vigiado por ter-se radicalizado, entrou no supermercado Super U de Trèbes no final da manhã desta sexta-feira e abriu fogo contra clientes e funcionários. O ministro francês da Administração Interna já o identificou como sendo Redouane Lakdim, um jovem de Carcassonne, que agiu sozinho.
Aparentemente armado com facas, uma arma curta e granadas, Redouane “gritou e começou a disparar várias vezes", contou um cliente do supermercado à rádio FranceInfo. "Vi a porta do frigorífico e pedi que as pessoas se fossem esconder lá comigo. Éramos dez e ficamos lá por uma hora. Houve mais disparos e fugimos pela porta de emergência dos fundos", completou o cliente.
Depois de os restantes reféns conseguirem fugir, o agressor barricou-se com um polícia que negociava com ele e que acabou ferido na operação das forças de segurança para matar o suspeito. Um militar que participou no assalto à loja também acabou ferido a tiro.
O presidente francês, Emmanuel Macron, pediu ao ministro do Interior, Gérard Collomb, para se deslocar a Trèbes. Em Bruxelas, onde participa numa cimeira da União Europeia, Macron ofereceu "todo o apoio" às pessoas envolvidas. Durante o incidente, o presidente francês estava em Bruxelas, estando já em Paris.
O primeiro-ministro francês, Edouard Philippe, afirmou que tudo leva a crer que se trata de "um ato terrorista". "A secção antiterrorista do Ministério Público de Paris está a reunir todas as informações que temos até ao momento e essas informações sugerem que se trata de um ato terrorista", disse Philippe, que interrompeu a visita que fazia a Mulhouse (no norte do país).
Um homem, que afirmou agir em nome do grupo ‘jihadista’ Estado Islâmico, entrou no supermercado cerca das 11:15 (10:15 em Lisboa) e foram ouvidos tiros, segundo fonte judicial citada pela agência France-Presse.
A justiça antiterrorista assumiu a investigação do ataque, que o primeiro-ministro francês Edouard Philippe classificou como "sério".
Português ferido no ataque em França em estado “grave”
Um português de 27 anos, residente nos arredores da cidade de Carcassonne, está em estado "grave" na sequência de disparos pelo autor do atentado terrorista desta manhã no sul de França, de acordo com um amigo da família.
Manuel Correia, amigo do jovem e da sua família, confirmou à Lusa que o português estava a conduzir o seu carro, quando o atacante disparou, vitimando mortalmente o passageiro que seguia ao seu lado.
"Foi quando ele ia a conduzir, mandaram parar, deram-lhe um tiro a ele, outro ao colega, o colega morreu, ele ficou ferido. Roubaram-lhe o carro e depois é que foram para o supermercado", contou, adiantando que tudo o que sabe é o estado dele "é grave".
Manuel Correia adiantou, ainda, que o jovem, originário de Coimbra, está em França "há uns dois anos" e que os pais emigraram há mais tempo.
"Bom, tratar-se de um português trata. Agora o que se passou realmente, realmente não sei muito a fundo. Tem 27 anos, vive ao lado de Carcassonne. Ele agora não estava a trabalhar ultimamente, estava a fazer formação na hotelaria", afirmou.
Entre os feridos graves figura um oficial da polícia local que tomou o lugar de uma refém. Há ainda dois feridos ligeiros, um deles um polícia ferido a tiro numa perna durante o assalto final.
Dois incidentes
As forças de segurança responderam a dois incidentes separados na manhã desta sexta-feira, um no supermercado de Trèbes e o segundo na cidade vizinha de Carcassonne, onde um polícia que fazia ‘jogging’ com outros três a cerca de 10 quilómetros do supermercado foi alvejado. O polícia, atingido num ombro, está livre de perigo.
As autoridades não explicaram se os dois incidentes estão relacionados, embora fonte da segurança, citada pela AFP, diga que o mesmo carro está vinculado ao ataque contra polícia em Carcassonne e à tomada de reféns no supermercado de Trèbes.
O carro do homem que disparou contra o polícia foi encontrado no estacionamento do supermercado de Trèbes, informou à AFP uma fonte ligada ao caso.
Em Trèbes, um homem entrou às 11:15 (10:15 em Lisboa) num supermercado da cadeia SuperU, tendo sido ouvidos tiros.
O alegado atacante afirmou que pertence ao grupo Estado Islâmico (EI), segundo fontes judiciais, citadas pela AFP.
As autoridades locais anunciaram no Twitter que a área estava isolada e pediram à população que "facilite o acesso às forças de segurança".
Ataque terrorista
"Tudo leva a crer que se trata de um ataque terrorista", declarou, em Bruxelas, o presidente francês, Emmanuel Macron, que anunciou o regresso imediato a Paris.
O atirador declarou atuar em nome do Estado Islâmico, segundo as autoridades.
"O homem que conduziu o ataque de Trèbes no sul da França é um soldado do Estado Islâmico, que agiu em resposta aos apelos da organização para atacar os países membros da coligação internacional", segundo um comunicado da agência de propaganda extremista Amaq postado no aplicativo Telegram.
Se o vínculo com o EI for confirmado, este ataque seria o primeiro desta dimensão desde a eleição do presidente Emmanuel Macron em maio do ano passado.
A tomada de reféns acontece com França ainda em estado de alerta, após a série de atentados desde o ataque contra a redação do jornal 'Charlie Hebdo' em janeiro de 2015, que deixou 12 mortos.
A onda de atentados extremistas fez 238 mortos e centenas de feridos em 2015 e 2016. Vários ataques ou tentativas de ataques tiveram como alvo militares ou polícias.
As autoridades temem novos atentados, apesar do aumento das medidas de segurança instauradas pelo governo. São dez mil polícias e militares espalhados pelas ruas, estações e lugares turísticos.
O Estado Islâmico, que perdeu quase todo o território que conquistou no Iraque e na Síria, onde autoproclamou um califado em 2014, geralmente ameaça a França em represália pela sua participação na coligação militar internacional que luta contra os seus combatentes nos dois países do Médio Oriente.
O último ataque reivindicado pelo Estado Islâmico em França aconteceu em Marselha, a 1 de outubro do ano passado. O tunisiano Ahmed Hanachi, de 29, matou dois jovens em frente à estação Saint-Charles, aos gritos de "Alá Akbar", antes de ser abatido por militares.
(Notícia atualizada às 18h04)
Comentários