Não deixa de ser curioso que boa parte do mundo se reja pela data cristã, mas que a Igreja Católica ande sempre uns 50 anos atrás. Bem sei, estou a ser cínico. Na verdade, as minhas expectativas com a Igreja são tão baixas que qualquer progresso é uma grande vitória. Por isso é que hoje escrevo isto. Gosto tanto de malhar em tudo o que está errado na Igreja (protecção de pedófilos, sexismo, corrupção, isenção de impostos, ligações à máfia, e tantas outras coisas que por alguma razão não são consideradas pecados), que até me ficava mal não mostrar o meu júbilo com a importância de uma afirmação destas vinda do Papa Francisco. Ainda mais, sabendo que com isto se aproximou perigosamente da possibilidade de ser envenenado por um qualquer cardeal reaccionário (meio pleonasmo, isto).
Fora cinismo, claro que a declaração é de sobremaneira importante. É para quem seja LGBTI+ católico, pelas razões mais evidentes; para os católicos no geral, que são realmente pelo amor entre as pessoas e não se fixam a dogmas homofóbicos e discriminatórios no geral; e é, claro, um sinal de avanço para todo o mundo, incluindo outras religiões. Agora, também me deixa curioso para saber a reacção de algumas pessoas. Aliás, estou até preocupado com o Nuno Melo, a Joana Bento Rodrigues, ou até a Facharrita, porque ainda não os vi a berrar que o Papa está infectado com o vírus do marxismo cultural.
Num mundo onde a homossexualidade (e todas as outras sexualidades que não hétero) ainda é considerada uma doença, onde há igrejas e outros locais que operam terapias de conversão, onde há gays discriminados no acesso à habitação, onde há países com zonas “LGBT free”, outros onde ser gay é crime, onde ainda há tanta gente LGBTI+ a sofrer violência psicológica e física, a ser violada e assassinada, é claro que é importantíssima esta posição do Papa. Claro que ainda falta muito até podermos ver um Papa a desfilar no seu Papa mobile, todo cheio de plumas e purpurinas arco-íris, no Vaticano Pride com toda a gente a celebrar o amor. Mas o Chico já fica para sempre marcado por estar no lado bom da História.
Sugestões mais ou menos culturais que, no caso de não valerem a pena, vos permitem vir insultar-me e cobrar-me uma jola:
- Foder?: livro da Bel Olid que li esta semana que fala precisamente nestes temas. Não é sobre sexo, é sobre sexualidade. É bastante simples e leve, mas importante.
- Borat: o novo filme do génio Sasha Baron Cohen já está aí e é incrível.
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