Nem sempre é fácil manter o optimismo em relação ao futuro, quando paramos um pouco para pensar no estado do mundo. Bem sei que muito boa gente não tem tempo para pensar nisto. Uns porque trabalham horas infinitas para pagar as contas, muitos mais porque isso dá muito trabalho e o scroll nas redes sociais não se faz sozinho. Para os que pensam, que ainda são bastantes, apesar de tudo, às vezes a vontade é só que o mundo seja cancelado de uma vez por todas, tomados que somos pelo mais descrente niilismo.
Incêndios colossais, tufões mais intensos e tempestades destruidoras cada vez mais regulares. O Ártico a derreter, a Amazónia a desaparecer, as barreiras de corais a morrer e a Terra a secar. O fascismo cresce na rua e nos governos, o nazismo ecoa nas redes sociais, o autoritarismo mantém-se firme em tantos países e as democracias abanam como se os seus pilares fossem feitos de areia. O racismo continua a matar, a homofobia continuar a matar, a xenofobia continua a matar, o machismo continuar a matar. Não só matam como são normalizados e até promovidos e aplaudidos. Trabalhamos cada vez mais para viver para cada vez menos, enquanto a desigualdade económica cava um poço entre ricos e pobres tão grande quanto o buraco na camada de ozono. Vivemos em competição e não cooperação, o individualismo mais egoísta prevalece sobre qualquer amor comunitário e do bem comum. Dependemos das redes sociais para ser indivíduos únicos e perdemos para as redes sociais a nossa sanidade mental. E a nossa privacidade. Já nada é nosso. Somos controlados, manipulados e subjugados sem disso dar conta. O livre-arbítrio era dos filósofos, agora é dos plutocratas. E o mundo por todos os lados parece mesmo desabar.
Ainda assim, nada está perdido. Não pode ser isto o princípio do fim de uma existência cujo propósito desconhecemos, mas que também não precisamos de conhecer para sentir o quão bonita pode ser. As alterações climáticas ainda podem ser revertidas e os ecossistemas salvos, parando o aquecimento da terra e a potencial crise de refugiados climáticos. A distribuição da riqueza pode ser mais equitativa, o consumismo reduzido, a fome e a pobreza extintas. A empatia pode ser desenvolvida, o amor e respeito pela diferença pode ser ensinado e interiorizado, a equidade não tem de ser uma utopia.
Há muita coisa que podemos fazer para preservar o planeta e salvar a humanidade. Pode não ser fácil, mas é possível. É possível que ir desta para melhor, seja literal e não figurativamente. É querermos.
Sugestões mais ou menos culturais que, no caso de não valerem a pena, vos permitem vir insultar-me e cobrar-me uma jola:
- David Attenborough: o novo documentário dele está na Netflix e é lindíssimo, e importante.
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