A Associação Geopark Estrela refere, em comunicado hoje enviado à agência Lusa, que as investigações, lideradas pelo coordenador científico do Estrela Geopark Mundial da UNESCO e professor no Instituto de Geografia e Ordenamento do Território (IGOT) da Universidade de Lisboa, Gonçalo Vieira, que foram publicadas esta semana na revista ‘Geomorphology’, “trazem novas informações sobre as glaciações da Serra da Estrela”.
“Os recentes estudos realizados na Serra da Estrela, nomeadamente na área da Lagoa Seca, um dos principais geossítios do Estrela Geopark Mundial da UNESCO, localizado na cabeceira do vale de Beijames e próximo do vale do Zêzere, conferem um contributo significativo para a compreensão, não só da última, mas também de glaciações anteriores”, segundo a fonte.
A investigação “foi feita com recurso a datações que permitem datar o tempo de exposição à superfície das rochas, analisando isótopos cosmogénicos”.
“É, assim, possível datar com precisão o momento em que as rochas erodidas ou transportadas pelos glaciares foram depositadas e expostas à atmosfera”, acrescenta.
A Associação Geopark Estrela explica que “foram estudadas seis amostras, quatro de blocos morénicos (blocos transportados pelo gelo glaciário) e duas de superfícies de rocha polidas pelos glaciares” e que “as idades obtidas são muito consistentes e confirmam as interpretações baseadas na geomorfologia”.
“De facto, os últimos resultados permitem afirmar de forma clara que a Serra da Estrela apresenta vestígios de duas glaciações distintas”, sublinha.
A última glaciação “teve na [Serra da] Estrela o máximo de extensão dos glaciares há cerca de 30 mil anos, altura em que o planalto apresentava um campo de gelo com uma espessura de 90 metros que fluía por ação da gravidade para os várias vales glaciários que se desenvolvem ao seu redor, originando um campo de gelo com uma área aproximada de 66 quilómetros quadrados”, lê-se.
Segundo a fonte, “os recentes estudos permitiram datar depósitos da penúltima glaciação, que na [Serra da] Estrela teve o seu máximo há cerca de 140 mil anos, data em que os glaciares seriam um pouco mais extensos do que na glaciação subsequente”.
“O desaparecimento dos glaciares da Serra da Estrela parece fixar-se próximo dos 14 mil anos, embora estes resultados sejam ainda pouco conclusivos”, é indicado.
Para a Associação Geopark Estrela, que tem sede no Instituto Politécnico da Guarda, os resultados agora apresentados “vêm ajudar a compreender a dinâmica glaciária do sudoeste europeu, conferindo um contributo importante para o conhecimento das glaciações, pois é a primeira vez que se datam depósitos glaciários da penúltima glaciação na Cordilheira Central Ibérica”.
A fonte lembra que estão em curso novas campanhas, orientadas por Gonçalo Vieira, envolvendo o IGOT – Universidade de Lisboa e a Universidade de Zurique, bem como o Estrela Geopark Mundial da UNESCO.
“O objetivo é conhecer ainda melhor a glaciação da Serra da Estrela e a sua dinâmica, estando uma campanha de amostragem prevista para o próximo mês de junho”, remata.
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