“A taxa de mortalidade perinatal é um dos maiores indicadores da qualidade dos serviços obstétricos de um país mas, como soubemos há pouco tempo, a taxa de mortalidade materna tem vindo a ter uma curva ascendente nos últimos dez anos”, disse à agência Lusa a presidente da associação, Sara do Vale.
“A associação até já tinha alertado para isso há dois anos, e realmente isso [a falta de profissionais nos serviços] já está a começar a afetar também a mortalidade infantil”, lamentou.
Aludindo ao caso de uma grávida que perdeu o bebé alegadamente por falta de obstetras no hospital das Caldas da Rainha, Sara do Vale afirmou “ser triste que se tenha tido que chegar a esse ponto para se olhar de frente para um problema urgente”.
Sara do Vale contou que, na sexta-feira, a associação recebeu “imensas mensagens de muitas mulheres a dizer que este não é um caso isolado, não só naquele hospital como noutros”.
“Há mulheres a relatar dificuldades de acesso às ecografias, exames de diagnóstico, em outros hospitais do país e, portanto, parece que se abriu aqui uma comporta de coisas que já se vinham a passar e isto infelizmente é uma consequência”, lamentou a presidente da organização não-governamental (ONG).
Como ONG no terreno, disse, “estamos a ver esta situação como uma consequência, que já se anunciava, da sistemática falta de investimento no nosso SNS [Serviço Nacional de Saúde]”.
“Os próprios profissionais no terreno também já têm vindo a alertar para as faltas de condições e, ao mesmo tempo, o desespero das mulheres perante não só o local onde podem ir ter os seus bebés, como a incerteza de saber se as portas das maternidades vão estar abertas ou não”, vincou.
Para Sara do Vale, “é urgente” o Estado tomar medidas, sublinhando que o número de profissionais de saúde nos serviços “é completamente desadequado”.
“Nenhum serviço público de obstetrícia no país atualmente sobrevive sem horas extraordinárias dos seus médicos e enfermeiros especialistas, essa é a verdade. É preciso conseguir fixar estes profissionais”, defendeu.
Apontou como uma das soluções “descongelar as carreiras”: “Não só em termos de continuidade de cuidados que todas as mulheres têm direito, e que a evidência já veio demonstrar ser o mais seguro para mães e bebés, como também para fidelizar os profissionais e acabar com um ‘burnout’ que também se está a assistir muito do lado do pessoal de obstetrícia”.
Esta situação, salientou, gera “muita ansiedade” relativamente ao futuro. “Não nos podemos esquecer que a gravidez e o parto é um momento marcante na vida destas famílias e que pode influenciar negativamente a saúde mental, e não só, destas mães, destes bebés e nós temos mesmo que olhar para isso com sensibilidade”.
A associação vai estar em Genebra, nas Nações Unidas, entre domingo e quarta-feira, para falar com a Comissão para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra as Mulheres.
“Já apresentamos o nosso relatório como ONG e já conseguimos em 2016 uma recomendação ao Governo da parte da ONU para partos menos medicalizados e vamos lá relatar todas estas situações que se estão a passar”, avançou à Lusa.
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