“Não podemos tomar as coisas como garantidas, porque é um sistema de governo tão precioso”, afirmou Jill Biden, numa entrevista à agência de notícias Associated Press (AP), acrescentando: “Não podemos ser complacentes. Temos que continuar lutando por isso”.
A primeira-dama dos Estados Unidos da América (EUA) começou a sua viagem a África no início desta semana, na Namíbia, uma jovem democracia, onde hoje fez um discurso empolgante para mais de mil estudantes, a quem disse que a democracia, pela qual os seus pais e avós lutaram, lhes cabe agora defenderem e protegerem.
Na entrevista, Biden disse que quando a primeira-dama Monica Geingos a convidou para uma visita, achou “que não havia lugar melhor para ir do que a Namíbia”, para “incentivar a juventude a se envolver, lutar pela sua democracia”.
“Como sinto que estamos a fazer nos Estados Unidos”, acrescentou.
Os 54 países da África são uma mistura de democracias às vezes frágeis em lugares como a Nigéria, que tem eleições este fim de semana. E em nações mais problemáticas, como Burkina Faso, Guiné-Conacri, Mali, Chade e Sudão, que sofreram golpes de Estado nos últimos anos, ou Uganda, Gabão, República do Congo, Guiné Equatorial e Camarões, onde os presidentes estão no poder há décadas. A Namíbia conquistou a sua independência da África do Sul em 1990.
A democracia americana foi severamente testada, após a eleição do Presidente Joe Biden em 2020, quando o seu antecessor, Donald Trump, repetidamente “contou mentiras sobre a eleição”. Centenas dos seus apoiantes, que acreditavam nas suas teorias da conspiração revoltaram-se e invadiram o Capitólio, em Washington, em 06 de janeiro de 2021, numa tentativa violenta de impedir que o Congresso certificasse Biden como o novo Presidente dos EUA e num esforço sem precedentes para impedir a habitual transferência pacífica de poder.
No seu discurso hoje, Jill Biden também salientou que as vozes das mulheres e meninas precisam ter mais destaque no debate sobre a democracia.
“Como a primeira geração a nascer numa Namíbia livre, o legado que seus pais e avós criaram agora é seu — seu para defender e proteger”, frisou Biden, para um público maioritariamente estudantil, na Universidade de Ciência e Tecnologia da Namíbia.
“Seu para crescer. E enquanto olhamos para frente, devemos lembrar que a luta pela democracia não tem fim”, frisou.
No final do dia, a primeira-dama norte-americana partiu para o Quénia, a segunda e última paragem desta sua viagem.
No Quénia, Biden planeia usar o seu estatuto para chamar a atenção para uma seca devastadora no Corno de África, que está a deixar as pessoas com fome e a colocar em risco milhões de vidas. A mulher de Joe Biden tinha visitado África, em 2011, durante uma fome severa.
“Espero que, você sabe, que as pessoas prestem atenção”, disse Biden na entrevista à AP. “Ver a seca e o que vi antes com crianças que não têm comida e pessoas que não podem ter gado, não podem cultivar e estão a morrer de fome, então estou a tentar realmente criar consciência e apenas ver o quão longe as coisas chegaram nos 10 anos em que eu estive fora”, explicou.
A primeira-dama, que já passou por mais de meia dúzia de países africanos, disse que se sente “muito confortável” no continente.
“Uma coisa que aprendi é que cada país é muito diferente — as pessoas são diferentes, a cultura é diferente, a religião é diferente, o idioma é diferente”, afirmou. “Mas, você sabe, todos nós compartilhamos muitos dos mesmos valores”, vincou.
“E acho que isso é importante, que estamos procurando estabilidade, um governo estável. Estamos procurando representação do povo. Estamos procurando por líderes que tenham caráter e integridade, e é isso que penso, que queremos promover e eles também”, apontou.
A primeira-dama, defendeu que o Governo Biden não é “isolacionista” como se estava a tornar “no governo anterior”, numa referência a Donald Trump, o seu antecessor na Casa Branca, e a sua postura é de colocar a América em primeiro lugar.
“Estamos a entrar em contacto e a dizer: ‘Ei, somos uma sociedade global. Demos as nossas mãos. Vamos fazer isso juntos”, frisou.
Jill Biden trabalhou com jovens ao longo de uma carreira de professora de 30 anos e disse no seu discurso que devem exercer os seus direitos de discordar, de falar quando virem injustiças e apoiar líderes que ouvem as suas preocupações.
Nos Estados Unidos, garantiu: “Ainda estamos a defender e a fortalecer a nossa democracia, quase 250 anos após a nossa fundação”.
“Não é fácil. A democracia não é fácil. Dá trabalho”, assegurou, durante o discurso na Namíbia. “Mas vale a pena, porque a democracia devolve”, rematou.
Depois, Jill Biden caminhou entre as pessoas para apertar as mãos e posar para ‘selfies’, com dezenas de alunos entusiasmados, que a aplaudiram quando dançou, embora por pouco tempo, ao som de uma batida africana pesada.
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