"O Dr. Mário Soares diz uma coisa extraordinária que nós vamos evocar aqui: ‘Há uma certeza que eu tenho, que ninguém tem a verdade toda e que a tolerância em democracia não é substituível por mais nada'. É esse sentimento de tolerância que nós queremos hoje aqui celebrar, como fazendo parte absolutamente fundamental do [seu] legado", afirmou à agência Lusa a presidente da Assembleia Municipal de Lisboa, Helena Roseta.
Falando à margem da primeira sessão do ano daquele organismo, a responsável defendeu que "o Dr. Mário Soares foi um grande combatente".
"Combatia e combateu ferozmente muitas forças políticas em Portugal e muitas dessas forças políticas o combateram a ele. Teve sempre esta capacidade de enfrentar aqueles que tinham ideias diferentes, mas nunca perdeu a tolerância pelas ideias dos outros", acrescentou Helena Roseta.
Para a também deputada do PS na Assembleia da República, este é "o valor maior" do seu percurso.
"Numa altura em que em Portugal, apesar de tudo, estamos ainda tão crispados - nós assistimos a debates na Assembleia da República tão crispados e tão intensos - é bom lembrar que se pode ser um grande combatente e, ao mesmo tempo, aceitar as ideias dos outros e ser respeitado por todos", reforçou Helena Roseta.
Na reunião foi aprovado por unanimidade e aclamação um voto de pesar, subscrito pela mesa da Assembleia Municipal e que acabou por reunir o apoio de todos os partidos, que recomenda à Câmara Municipal "que perpetue na cidade de Lisboa o nome e o legado de Mário Soares".
Segundo Helena Roseta, esta é um exemplo da "democracia pluralista pela qual ele sempre se bateu".
"É esse o sinal que damos como assembleia da cidade onde ele nasceu, onde ele viveu e por onde foi sempre eleito deputado", concluiu a autarca.
Intervindo na sessão, o deputado socialista José Leitão - também um dos fundadores do PS - recordou Mário Soares como um "homem de convicções firmes".
Enquanto a deputada Cláudia Madeira, do PEV, falou num "homem que marcou a história" do país, a social-democrata Rosa Carvalho da Silva evocou uma "figura carismática da democracia".
Já o comunista Carlos Silva Santos reconheceu que o histórico do PS "desempenhou alguns dos mais árduos cargos políticos".
No encontro, foi ainda escutado um excerto com a voz do histórico socialista retirado de um tempo de antena das eleições de 1986.
Seguiu-se um minuto de silêncio.
Mário Soares morreu no dia 7 de janeiro, aos 92 anos, no Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa, tendo o Governo português decretado três dias de luto nacional.
Nascido a 7 de dezembro de 1924, em Lisboa, Mário Alberto Nobre Lopes Soares, advogado, combateu a ditadura do Estado Novo e foi fundador e primeiro líder do PS.
Após a revolução do 25 de Abril de 1974, regressou do exílio em França e foi ministro dos Negócios Estrangeiros e primeiro-ministro entre 1976 e 1978 e entre 1983 e 1985, tendo pedido a adesão de Portugal à então Comunidade Económica Europeia (CEE), em 1977, e assinado o respetivo tratado, em 1985.
Em 1986, ganhou as eleições presidenciais e foi Presidente da República durante dois mandatos, até 1996.
Na Assembleia Municipal, foram ainda aprovados votos de pesar pela morte do presidente da Câmara de Matosinhos, o socialista Guilherme Pinto, do deputado municipal do PSD Joaquim Fernandes Marques e do militante comunista António Tereso.
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