Na primeira sessão de julgamento, que começou esta manhã no Tribunal Central Criminal de Lisboa, o arguido, de 65 anos e que se encontra em prisão preventiva desde 23 de março de 2017 na cadeia de alta segurança de Monsanto, em Lisboa, disse que “nunca recrutou ninguém nem financiou o terrorismo”, considerado que a acusação “é como um filme de Hollywodd”.
Tazi explicou que o processo teve origem “numa queixa caluniosa, difamatória e bem orquestrada” por dois alegados traficantes de droga, que se quiseram “vingar” dele, depois de ter recusado guardar haxixe na casa onde residia, em Aveiro, para ser vendido em Lisboa.
O arguido contou ao coletivo de juízes, presidido por Francisco Henriques que recusou a proposta, pois queria “ter uma vida tranquila e em paz”, acrescentando que os traficantes lhe disseram que iria preso e que iriam fazer-lhe a vida “num inferno”, tendo apresentado queixa, em março de 2015, na Polícia Judiciária e no Serviço de Estrangeiros e Fronteiras.
“Tenho a consciência tranquila. Sou uma pessoa tranquila, contra a violência, pela paz, pela sã convivência e pela tolerância. Sou um simples muçulmano [origem sunita], não sou um pregador [da religião professada pela EI)”, afirmou Tazi ao tribunal, negando ser salafista [ala mais radical e mais violenta do Islão] e que a religião “é muito pessoal”.
Antes de chegar a Portugal, em 2013, num voo proveniente da Guiné Bissau, o arguido assumiu que esteve em países como o Canadá, Suécia, Noruega, Espanha, Irlanda, Finlândia ou França, e que casou com uma sueca e uma canadiana.
Tazi disse ainda que se demitiu da Polícia Judiciária marroquina em 1982 para ser um “ativista” da luta contra “a ditadura monárquica” do seu país e apologista da democracia, passando depois a ser porta-voz do Partido da Justiça e do Desenvolvimento (PJD).
Em França, acrescentou, fez “estudos universitários” de sociologia.
Em relação a Hicham El Hanafi, detido em França por estar envolvido na alegada preparação de um ataque terrorista, e que foi, segundo a acusação do Ministério Público português, radicalizado e doutrinado pelo arguido, Abdessalam Tazi negou as acusações, salientando que conheceu Hicham no centro de detenção no Aeroporto de Lisboa.
O julgamento prossegue na parte da tarde com o interrogatório do arguido e a inquirição de três testemunhas.
O arguido responde por oito crimes: adesão a organização terrorista internacional, falsificação com vista ao terrorismo, recrutamento para o terrorismo, financiamento do terrorismo e quatro crimes de uso de documento falso com vista ao financiamento do terrorismo.
Segundo a acusação do MP, Abdesselam Tazi deslocou-se várias vezes ao Centro de Acolhimento para Refugiados, no concelho de Loures, para recrutar operacionais para esta organização, prometendo-lhes mensalmente 1.800 dólares norte-americanos (cerca de 1.500 euros).
Abdesselam Tazi fez-se sempre acompanhar por Hicham El Hanafi, que havia radicalizado e recrutado em Marrocos, antes de ambos viajarem para a Europa. O MP diz que o processo de refugiado, os apoios e a colocação em Portugal deste suspeito foram idênticos aos do arguido, tendo ambos ficado a viver juntos no distrito de Aveiro.
“Pelo menos a partir de 23 de setembro de 2013, a principal atividade desenvolvida pelo arguido em Portugal consistia em auxiliar e financiar a deslocação de cidadãos marroquinos para a Europa e em obter meios de financiamento para a causa ‘jihadista’”, indica a acusação do Departamento Central de Investigação e Ação Penal.
O MP conta que Abdesselam Tazi "passou a visitar regularmente" o Centro de Acolhimento para Refugiados (CAR) “para dar apoio às pessoas em relação às quais organizara a sua vinda para Portugal e outros migrantes jovens que pudessem ser radicalizados e recrutados para aderirem ao Daesh” (acrónimo árabe do grupo extremista Estado Islâmico), procurando convencê-las de “que teriam uma vida melhor se aderissem ao Daesh e fossem viver para a Síria”.
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