“Os apelos [do general Mark Milley] aos chineses e outros em outubro e janeiro estavam de acordo com [os seus] deveres e responsabilidades de transmitir garantias para manter a estabilidade estratégica”, disse o porta-voz do Estado-Maior das Forças Armadas dos Estados Unidos, coronel Dave Butler, num comunicado à imprensa.
Butler também negou que essas ligações tenham sido feitas em segredo.
Por seu lado, a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, numa conferência de imprensa, garantiu que o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, tem “toda a confiança” em Milley.
“O Presidente tem total confiança na sua liderança, no seu patriotismo e na sua lealdade à Constituição” assegurou Psaki.
Terça-feira, extratos do livro “Perigo”, dos jornalistas do The Washington Post Bob Woodward e Robert Costa, publicados pelo The Washington Post e pela CNN, referem que Milley estava tão preocupado com o estado mental do ex-Presidente Donald Trump nos últimos dias do seu mandato que tomou secretamente medidas para evitar uma guerra com a China.
No livro, a ser publicado nos próximos dias, é relatado que Milley tomou a iniciativa de telefonar secretamente ao seu homólogo chinês para lhe assegurar que os Estados Unidos não atacariam a China.
De acordo com os extratos publicados, Milley também obrigou os seus adjuntos a prometerem não obedecer imediatamente a uma possível ordem extrema de Donald Trump, em particular sobre o uso de armas nucleares, após a derrota eleitoral do Presidente republicano, a 03 de novembro de 2020.
Depois de os serviços de informações norte-americanos terem concluído que a China considerava iminente um ataque dos Estados Unidos, Milley telefonou duas vezes ao general Li Zuocheng.
Uma delas foi a 30 de outubro, pouco antes das eleições presidenciais norte-americanas, e outra a 08 de janeiro, dois dias após o ataque de partidários de Donald Trump ao Capitólio.
“General Li, quero assegurar-lhe que o Estado norte-americano é estável e que tudo vai ficar bem”, disse Milley, segundo o livro, baseado em depoimentos anónimos de 200 autoridades dos Estados Unidos.
“Não vamos atacar ou conduzir operações militares contra a China”, insistiu.
Segundo o que vem descrito em o “Perigo”, Milley telefonou novamente ao homólogo chinês dois meses depois, quando o comportamento de Donald Trump, furioso com a derrota eleitoral nas presidenciais contra Joe Biden, parecia cada vez mais errático.
“Está tudo bem. Mas a democracia às vezes é complicada”, afirmou.
Além disso, Milley convocou o Estado-Maior General das Forças Armadas para enfatizar que, se Donald Trump ordenasse um ataque nuclear, deveria ser informado primeiro.
“Olhando para cada um olhos nos olhos, pediu a todos os oficiais reunidos que confirmassem que tinham entendido corretamente” as suas ordens, acrescentam Woodward e Costa, para quem o episódio constituiu um “juramento”.
Milley também pediu à diretora da CIA, Gina Haspel, e ao diretor da Inteligência Militar, general Paul Nakasone, que monitorassem qualquer comportamento errático de Donald Trump.
“Alguns podem pensar que Milley extrapolou a sua autoridade e deu a si próprio poderes excessivos”, escrevem os autores de “Perigo”.
No entanto, prosseguem, Milley estava convencido de que estava a fazer o que era necessário “para que não houvesse rutura histórica na ordem internacional, uma guerra acidental com a China ou outras, e que as armas nucleares não fossem usadas”, acrescentam.
Para o livro, e quando questionado, o Estado-Maior norte-americano absteve-se de comentar.
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